O fungo Aspergillus flavus, altamente tĂłxico, conhecido por seus esporos amarelos e associado a lendas como a da maldição de Tutancâmon, pode na verdade desempenhar um papel importante no combate ao câncer. Pesquisadores descobriram que ele produz molĂ©culas muito promissoras contra certas cĂ©lulas cancerĂgenas.
Uma amostra de Aspergillus flavus cultivada em laboratĂłrio.
Crédito: Bella Ciervo
Os cientistas isolaram um grupo de pequenas moléculas chamadas RiPPs, que o fungo produz naturalmente. Essas moléculas possuem uma estrutura particular em forma de anéis entrelaçados, que parece muito eficaz contra células responsáveis pela leucemia, um câncer no sangue.
Duas versões dessas molĂ©culas, chamadas asperigimicinas, mostraram resultados muito bons em laboratĂłrio. Uma delas foi atĂ© modificada para incluir um lipĂdio (um tipo de gordura), o que permitiu aumentar sua eficácia a ponto de rivalizar com alguns medicamentos já usados contra o câncer.
As asperigimicinas bloqueiam um mecanismo chave da divisĂŁo das cĂ©lulas cancerĂgenas, impedindo a formação de microtĂşbulos, espĂ©cies de "trilhos" que permitem aos cromossomos se separarem durante a divisĂŁo. Esse bloqueio impede que as cĂ©lulas leucĂŞmicas se multipliquem.
O que torna essa descoberta particularmente interessante é que essas moléculas agem apenas nas células da leucemia. Elas deixam intactos outros tipos de células. Isso significa que poderiam oferecer um tratamento com menos efeitos colaterais do que as quimioterapias atuais.
Os pesquisadores planejam agora testar essas molĂ©culas em animais antes de considerar testes clĂnicos em humanos. Essa descoberta mostra mais uma vez que a natureza, mesmo atravĂ©s de fungos pouco atraentes, pode oferecer pistas para tratar doenças graves.