Como este cérebro pôde se transformar em vidro? 🧠

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Scientific Reports
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A erupção do Vesúvio em 79 d.C. congelou no tempo cenas trágicas da vida. Entre elas, um fenômeno raro: a vitrificação do cérebro de uma vítima, preservado na forma de vidro negro.


Uma amostra de vidro orgânico encontrada dentro do crânio de um homem de Herculano.
Pier Paolo Petrone

Essa descoberta, realizada em Herculano, oferece uma visão inédita sobre as condições extremas da erupção. Os cientistas identificaram estruturas neuronais intactas nesse material vitrificado, evidenciando um processo de conservação excepcional.

Um processo de vitrificação único


A vitrificação, transformação de um material em vidro, requer condições específicas. Para o cérebro dessa vítima, foi necessário um aumento rápido da temperatura para mais de 510 °C, seguido de um resfriamento instantâneo. Essas condições permitiram preservar detalhes microscópicos, como neurônios e axônios, sem que o tecido se decompusesse.

As análises realizadas por uma equipe internacional, incluindo técnicas de microscopia eletrônica e espectroscopia, confirmaram a natureza vítrea do material. Esses resultados, publicados na Scientific Reports, mostram que esse processo é sem precedentes nos registros arqueológicos. Os pesquisadores também identificaram vestígios de proteínas cerebrais, confirmando a origem orgânica dos fragmentos vitrificados.

Uma reconstrução dos eventos catastróficos


Os pesquisadores estimam que o cérebro foi exposto a uma nuvem de cinzas superaquecida, atingindo temperaturas extremas em poucos instantes. Esse fenômeno, distinto dos fluxos piroclásticos mais lentos, explica a vitrificação rápida. Essa nuvem, composta por gases e partículas incandescentes, atingiu Herculano antes que os fluxos piroclásticos soterrassem a cidade sob metros de detritos vulcânicos.


(a) Corpo carbonizado da vítima em sua cama de madeira no Collegium Augustalium; os restos vitrificados do cérebro foram encontrados em seu crânio.
(b) Vista panorâmica para o leste das ruínas de Herculano com o vulcão Vesúvio ao fundo e a localização do Collegium Augustalium na cidade.

Essa descoberta questiona os cenários tradicionais da erupção do Vesúvio. Até então, acreditava-se que os fluxos piroclásticos eram responsáveis pela destruição de Herculano. No entanto, o cérebro vitrificado sugere que um evento anterior, breve mas extremamente quente, teve um papel crucial na morte dos habitantes. Essa nuvem de cinzas, embora de curta duração, foi suficientemente intensa para causar danos mortais.

Essa reconstrução dos eventos tem implicações importantes para a vulcanologia moderna. Ela mostra que até fenômenos efêmeros, como uma nuvem de cinzas superaquecida, podem ser devastadores. Essas observações podem ajudar a prever melhor os riscos durante erupções vulcânicas futuras, especialmente para populações que vivem próximas a vulcões ativos.

Para saber mais: O que é vitrificação?


A vitrificação é um processo pelo qual um material se transforma em vidro. Diferente da cristalização, onde os átomos se organizam de maneira ordenada, a vitrificação mantém uma estrutura desordenada, típica dos sólidos amorfos.

Esse fenômeno requer um resfriamento rápido para impedir a formação de cristais. No caso do cérebro de Herculano, o calor extremo e o resfriamento permitiram essa transformação única.

O que os restos arqueológicos de Herculano nos ensinam?


Herculano, assim como Pompeia, oferece uma visão única da vida romana antiga. Os corpos, edifícios e objetos preservados sob as cinzas permitem que os arqueólogos reconstruam o cotidiano dos habitantes.

A descoberta do cérebro vitrificado acrescenta uma dimensão científica a essas escavações. Ela mostra como condições extremas podem preservar tecidos orgânicos, abrindo novas perspectivas para o estudo de vestígios antigos.
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