Uma equipe liderada por um pesquisador da Universidade McGill determinou os fatores que influenciam a decisão dos cidadãos de pagar propinas a funcionários públicos. O modelo desenvolvido pelos pesquisadores pode ajudar as autoridades a combater a corrupção.
Mesmo em países onde essa prática é comum, "a corrupção é uma questão de contexto. As pessoas levam em consideração vários fatores ao decidir pagar ou não uma propina", explica Aaron Erlich, professor associado do Departamento de Ciência Política da Universidade McGill e autor de um artigo recente publicado com outros dois pesquisadores na
Comparative Political Science.
"Às vezes imaginamos que as pessoas se dividem em duas categorias: as corruptíveis e as incorruptíveis. Essa é provavelmente uma ideia equivocada do que realmente acontece nos países em desenvolvimento e em muitos outros lugares", afirma ele. "A concepção de que algumas pessoas são completamente corruptas é limitada. Acho mais justo dizer que a maioria das pessoas oferecerá uma propina em certas situações, e que algumas pessoas oferecerão em múltiplas situações."
Para entender por que um cidadão escolhe fazer um pagamento ilícito em uma determinada situação e não em outra, os pesquisadores entrevistaram mais de 3.000 pessoas na Ucrânia em 2020. O país havia realizado recentemente campanhas anticorrupção de grande escala, que tiveram um sucesso relativo. De acordo com a Transparency International, 38% das pessoas declararam ter pago uma propina em 2016, enquanto apenas 26% afirmaram ter feito o mesmo em 2020.
Os pesquisadores pediram aos participantes que respondessem a perguntas sobre o pagamento de propinas para obter duas coisas mais rapidamente: uma carteira de motorista ou uma consulta em uma clínica médica administrada pelo Estado. De fato, de acordo com as pesquisas citadas pelos pesquisadores, esses serviços eram frequentemente obtidos por meio de propinas na Ucrânia: mais da metade dos entrevistados que, durante o ano, receberam atendimento médico ou obtiveram uma carteira de motorista, para si ou para um membro da família, pagaram uma propina.
Os pesquisadores descobriram que os pagamentos ilícitos tendem a diminuir se os custos ou os riscos de serem pegos forem altos, ou se os serviços puderem ser obtidos sem burocracia ou de vários fornecedores.
"Portanto, seria necessário encontrar uma maneira de fazer com que as pessoas tenham menos tendência a recorrer a métodos ilegais", defende o professor Erlich.
Os pesquisadores acreditam que um país ou região poderia considerar a possibilidade de combater a corrupção em seu território começando por direcionar esforços a uma área específica e, em seguida, avançando passo a passo.
Segundo eles, o próximo passo seria testar seu modelo em outros países e setores. Eles consideram que seria útil estudar diferentes serviços públicos para entender melhor como a urgência das necessidades, a variedade de papéis dos funcionários públicos e a disponibilidade dos serviços influenciam o uso de propinas.
Referências:
O estudo "Selective Bribery: When Do Citizens Engage in Corruption?", de Aaron Erlich, Jordan Gans-Morse e Simeon Nichter, foi publicado na
Comparative Political Studies.
DOI: https://doi.org/10.1177/00104140241259444
Os autores afirmam que não receberam nenhum apoio financeiro para sua pesquisa ou para a redação e publicação do artigo.