A atmosfera terrestre registrou em 2024 um aumento sem precedentes de dióxido de carbono (CO₂), um gás que contribui para o aquecimento do nosso planeta.
Os cientistas mediram um aumento de 3,5 partes por milhão (ppm) de CO₂ no ar entre 2023 e 2024, o que representa o maior crescimento anual desde o início dos registros modernos em 1957. Esta concentração total atinge agora cerca de 423,9 ppm, ou seja, 152% a mais do que antes da era industrial. As causas principais incluem a combustão persistente de energias fósseis pela humanidade, um recrudescimento de incêndios florestais e uma diminuição da absorção pelos sumidouros de carbono naturais como oceanos e florestas. Estes últimos, que normalmente capturam parte do CO₂, parecem menos eficazes, agravando a situação.
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O CO₂ é o principal gás de efeito estufa responsável pela mudança climática, representando cerca de 80% do efeito de aquecimento desde 1990, segundo a Agência Americana de Observação Oceânica e Atmosférica. Ao aprisionar o calor solar, ele eleva as temperaturas médias globais, o que modifica os regimes meteorológicos, faz subir o nível dos mares e ameaça a segurança alimentar e econômica de bilhões de pessoas. Ko Barrett, secretária-geral adjunta da Organização Meteorológica Mundial, destacou que reduzir as emissões é vital para a estabilidade climática e o bem-estar das comunidades.
As emissões de gases de efeito estufa variam consideravelmente conforme os países. Em 2024, a China era o maior emissor, responsável por cerca de 29,2% das emissões globais, seguida pelos Estados Unidos com 11,1% e pela Índia com 8,2%. Enquanto a China e a Índia aumentaram suas liberações em relação a 2023, as dos Estados Unidos permaneceram estáveis. Porém, iniciativas como o Acordo de Paris visam limitar essas emissões, mas ações políticas, como a retirada repetida dos Estados Unidos deste acordo, complicam os esforços globais. O projeto Climate Action Tracker estima que nem a China nem os Estados Unidos estão fazendo o suficiente, classificando-os respectivamente como "muito insuficientes" e "criticamente insuficientes".
Além do CO₂, outros gases como o metano (CH₄) e o protóxido de nitrogênio (N₂O) também atingiram níveis recordes em 2024, com aumentos de 166% e 25% em relação às épocas pré-industriais. Esses aumentos se explicam em parte por ciclos de retroalimentação positiva: o aquecimento reduz a eficiência dos sumidouros de carbono, como os oceanos que absorvem menos CO₂ em águas mais quentes, acelerando assim a mudança climática. Oksana Tarasova, uma especialista da Organização Meteorológica Mundial, insistiu na necessidade de reforçar a monitoração para entender melhor esses mecanismos.
Diante desta urgência, as recomendações do relatório incluem uma redução drástica das emissões e uma melhoria dos sistemas de acompanhamento. As soluções passam por uma transição energética para fontes renováveis e uma melhor gestão dos recursos naturais. Sem ação rápida, os impactos sobre os ecossistemas e as sociedades humanas poderiam se intensificar, tornando cada ano mais crítico para o futuro do planeta.
Os sumidouros de carbono naturais
Os sumidouros de carbono são reservatórios naturais, como oceanos e florestas, que absorvem e armazenam o dióxido de carbono da atmosfera. Este processo ajuda a regular o clima reduzindo a quantidade de CO₂ disponível para aprisionar calor. Por exemplo, as árvores capturam o CO₂ durante a fotossíntese, enquanto os oceanos o dissolvem na água.
No entanto, a eficácia desses sumidouros está ameaçada pela mudança climática. Com o aumento das temperaturas, os oceanos absorvem menos CO₂ porque os gases se dissolvem menos em água quente. Além disso, o desmatamento e a degradação dos ecossistemas reduzem a capacidade das florestas de atuarem como esponjas de carbono.
Esta diminuição cria um ciclo de retroalimentação positiva: menos CO₂ é absorvido, o que acelera o aquecimento, que por sua vez enfraquece ainda mais os sumidouros. Estudos mostram que se esta tendência continuar, até 30% da absorção natural poderia ser comprometida até o final do século.
Para contrapor isso, iniciativas de reflorestamento e proteção de zonas marinhas são essenciais. Ao restaurar esses ecossistemas, podemos aumentar sua capacidade de capturar carbono, oferecendo uma solução natural para mitigar os efeitos da mudança climática.