Fiorde de Dickson - Imagem Wikimedia
Um volume de 25 milhões de m³ de rochas e gelo desabou no fiorde isolado de Dickson, no leste da Groenlândia, desencadeando um tsunami de 200 metros de altura. Esse tsunami provocou oscilações no fiorde por vários dias, formando um fenômeno chamado de "seixa". Os movimentos dessas massas de água geraram ondas sísmicas incomuns, registradas em todo o mundo, da Groenlândia à Antártica, emitindo um curioso zumbido harmônico.
Surpreendidos por esses sinais, os sismólogos colaboraram com pesquisadores de diferentes disciplinas. Uma equipe internacional composta por 68 cientistas, de 40 instituições e 15 países, foi formada para investigar este evento. Eles cruzaram várias fontes de dados: registros sísmicos, sensores de infrassom, imagens de satélite e simulações de tsunamis. Fotografias da região, tiradas pelo exército dinamarquês poucos dias após o desmoronamento, também foram usadas para avaliar os danos.
A investigação revelou que o colapso da montanha, que outrora atingia 1,2 km de altura, foi causado pela retração glaciar provocada pelas mudanças climáticas. O volume de rochas desmoronadas era colossal, equivalente a 10.000 piscinas olímpicas ou 220.000 caminhões semirreboques, uma fila de caminhões se estendendo por 3.700 km! O tsunami resultante foi um dos mais impressionantes observados nos últimos anos. A 70 km do ponto de desmoronamento, ondas de quatro metros danificaram uma base de pesquisa e destruíram vários locais arqueológicos e culturais.
O fiorde de Dickson, geralmente frequentado por navios de cruzeiro, felizmente estava deserto no momento do tsunami. As conclusões deste estudo ressaltam o vínculo entre os eventos naturais que ocorrem em áreas isoladas e suas repercussões em escala global. Elas também destacam o papel central das mudanças climáticas em tais desastres, lembrando a importância de prever melhor esses eventos para proteger as populações e os ecossistemas.
Referências:
Kristian Svennevig et al., A rockslide-generated tsunami in a Greenland fjord rang Earth for 9 days.
Science 385,1196-1205(2024).