Uma equipe de pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) desenvolveu um método inovador para estimular profundamente o cérebro humano sem necessidade de procedimentos invasivos.
Essa descoberta pode transformar o tratamento de diversas patologias neurológicas e psiquiátricas, como os vícios, a depressão e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). A importância deste avanço reside na sua capacidade de direcionar precisamente as regiões profundas do cérebro, muitas vezes envolvidas nesses distúrbios, sem os riscos associados aos métodos invasivos tradicionais.
A estimulação cerebral não é nova e já demonstrou sua eficácia no tratamento de vários distúrbios neurológicos. No entanto, as técnicas utilizadas até agora, como a estimulação cerebral profunda (ECP), envolvem intervenções cirúrgicas invasivas. A equipe da EPFL, liderada pelo professor Friedhelm Hummel e pelo doutor Pierre Vassiliadis, procurou superar essas limitações ao desenvolver a estimulação elétrica por interferência temporal transcraniana (tTIS). Essa abordagem, detalhada na revista Nature Human Behaviour, visa oferecer uma alternativa não invasiva.
A tTIS baseia-se no princípio da interferência temporal, que utiliza dois pares de eletrodos colocados no couro cabeludo. Esses eletrodos geram campos elétricos de baixa intensidade que, quando se cruzam dentro do cérebro, permitem direcionar especificamente as regiões profundas. Até agora, os métodos não invasivos não conseguiam alcançar essas áreas de maneira seletiva, tornando os tratamentos ineficazes. A tTIS supera esse obstáculo ao utilizar frequências altas que não estimulam diretamente a atividade neuronal intermediária, concentrando assim o efeito na região alvo.
Os experimentos conduzidos pela equipe da EPFL focaram no estriado humano, uma região do cérebro envolvida na tomada de decisão e no mecanismo de recompensa. Os pesquisadores ajustaram um par de eletrodos a uma frequência de 2.000 Hz e outro a 2.080 Hz. A diferença de frequência de 80 Hz torna-se a frequência de estimulação efetiva na zona alvo, perturbando assim seu funcionamento normal. Essa abordagem mostrou que o aprendizado por reforço, essencial em como aprendemos através das recompensas, pode ser influenciado ao direcionar frequências cerebrais específicas.
As aplicações clínicas potenciais dessa técnica são vastas. No tratamento de vícios, onde os pacientes tendem a supervalorizar as recompensas, a tTIS poderia ajudar a modular esses comportamentos patológicos. Da mesma forma, para condições como a depressão e o TOC, onde os mecanismos de recompensa e tomada de decisão frequentemente estão alterados, este método oferece uma nova via terapêutica promissora. A equipe também explora como diferentes esquemas de estimulação poderiam melhorar as funções cerebrais, ao invés de simplesmente perturbá-las.
O futuro da pesquisa sobre a tTIS parece promissor, com ensaios em andamento para testar sua eficácia em outras patologias neurológicas. Estudos preliminares também sugerem benefícios potenciais na melhoria das capacidades motoras e cognitivas, especialmente em pessoas idosas. Ao ampliar os ensaios clínicos, a EPFL espera confirmar esses resultados e abrir caminho para novas aplicações terapêuticas para essa técnica revolucionária. Essa inovação pode assim marcar um avanço significativo no tratamento dos distúrbios neuropsiquiátricos.