A antiga civilização do Vale do Indo, que se estendeu desde 3300 antes da nossa era sobre o que é hoje o Paquistão e a Índia, representa uma das primeiras grandes civilizações do mundo.
Com um território mais vasto que os da Mesopotâmia e do Egito, ela se distingue por avanços notáveis como o uso de pesos e medidas uniformes, a existência de artesãos qualificados, um sistema comercial desenvolvido, e mais de 500 símbolos e sinais para comunicação.
Série de selos do Indo por Iravatham Mahadevan. Crédito: Florida Institute of Technology.
A natureza exata desses sinais permanece, contudo, um tópico de debate entre especialistas. Alguns veem nesses caracteres uma linguagem estruturada, enquanto outros os consideram como simples pictogramas. Este mistério, não resolvido há décadas, constitui um obstáculo significativo para a compreensão profunda desta civilização.
Neste contexto, surge um projeto ambicioso, liderado por Debasis Mitra, professor de informática, graças a uma subvenção da National Endowment for the Humanities para a digitalização e arquivamento dos artefatos do Vale do Indo. Com a ajuda de Deva Atturu, estudante de mestrado, Mitra dedica-se a desenvolver um algoritmo de aprendizagem automática capaz de identificar e digitalizar o antigo script do Indo.
O desafio é considerável, especialmente devido à falta de dados digitalizados disponíveis e à qualidade por vezes mediana dos dados existentes. Ainda assim, utilizando um sistema de reconhecimento automático de escrita baseado em redes neurais artificiais, o projeto já alcançou uma taxa de sucesso de 88% na detecção de grafemas.
O objetivo de Mitra não é decidir o debate sobre a natureza dos símbolos do Indo, mas fornecer aos pesquisadores as ferramentas necessárias para avançar em suas pesquisas. A perspectiva de poder, eventualmente, tirar uma foto com um smartphone de um texto ou símbolo no campo e vê-lo automaticamente digitalizado e adicionado a um banco de dados é particularmente promissora.
Além do aspecto técnico, este projeto tem uma dimensão pessoal para Mitra, que vê isso como uma maneira de contribuir para a redescoberta da história de seu país. A participação de estudantes indianos e o interesse demonstrado por pesquisadores internacionais, incluindo estudantes americanos, atestam o apelo universal da civilização do Vale do Indo e a importância de preservá-la para as gerações futuras.