A organização grega Callisto, especializada na proteção da fauna, anunciou a detecção de um animal apresentando 45% de ADN de lobo e 55% de ADN canino doméstico. Esta identificação resulta de testes de ADN aprofundados realizados em cinquenta amostras de lobos provenientes do território continental grego.
A bióloga Aimilia Ioakimeidou apresentou estes resultados durante uma conferência em Atenas, salientando o carácter excecional desta descoberta. O animal foi detetado perto de Salónica, no norte do país, onde Callisto conduz também operações para localizar um lobo que feriu uma criança.
O lobo cinzento, antepassado presumido dos cães domésticos. Imagem Wikimedia
Os híbridos lobo-cão, embora por vezes reportados na Europa, na Ásia Central e nos Estados Unidos, revelam-se muito menos frequentes do que inicialmente se pensava. As primeiras observações baseavam-se principalmente na aparência física dos animais, mas as análises genéticas modernas permitiram retificar esta perceção. Na Grécia particularmente, a população lupina conhece um crescimento sustentado desde a proibição da caça instaurada em 1983 pela Convenção de Berna. Um estudo de seis anos recentemente concluído pela Callisto estima atualmente esta população em 2 075 indivíduos.
A evolução das teorias sobre a domesticação canina traz um esclarecimento complementar a estas descobertas. Durante muito tempo, a visão dominante sugeria que os lobos se teriam aproximado dos acampamentos humanos para se alimentarem de restos, iniciando assim um processo de domesticação. Esta hipótese é hoje contestada por uma alternativa propondo que caçadores-recolectores teriam capturado lobinhos para os criar, dando origem aos primeiros cães domésticos há 40 000 a 15 000 anos. Estas novas perspetivas põem em causa a nossa compreensão das interações ancestrais entre humanos e canídeos.
A missão da Callisto, com sede em Salónica, engloba o estudo e a proteção dos grandes carnívoros como os ursos e os lobos, assim como outras espécies ameaçadas. O seu trabalho combina investigação científica e ações concretas no terreno, como a operação em curso para localizar o lobo responsável pelo incidente em Neos Marmaras. Estes esforços contribuem para uma melhor gestão dos habitats e das populações animais.
A hibridação entre espécies caninas
A hibridação designa o cruzamento entre duas espécies diferentes, produzindo uma descendência fértil ou não. Nos canídeos, este fenómeno pode ocorrer quando os habitats dos lobos e dos cães domésticos se sobrepõem, nomeadamente nas zonas periurbanas onde os contactos se tornam mais frequentes.
Os híbridos lobo-cão apresentam frequentemente características intermédias, combinando por exemplo o tamanho imponente do lobo com os traços comportamentais mais dóceis do cão. Contudo, a sua identificação precisa necessita de testes de ADN, pois a aparência física sozinha pode ser enganadora. Estes animais podem mostrar uma adaptabilidade surpreendente aos ambientes modificados pelo homem.
A fertilidade dos híbridos varia consideravelmente consoante as gerações de cruzamento. Os primeiros híbridos são geralmente férteis, mas as gerações seguintes podem apresentar problemas de reprodução. Esta variabilidade influencia diretamente a persistência das linhagens híbridas na natureza e o seu impacto nas populações selvagens.