As árvores exploram os rios para se propagar 🌴

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Proceedings of the Royal Society B
Outras LĂ­nguas: FR, EN, DE, ES
As florestas amazônicas e atlânticas (localizadas ao longo do litoral do Brasil), separadas por zonas áridas, compartilham várias espécies de árvores. Durante muito tempo, os cientistas acreditavam que essas migrações ocorreram durante períodos climáticos mais úmidos. Uma nova pesquisa mostra que os rios desempenham um papel fundamental nessa dispersão, atuando como corredores ecológicos naturais.



O papel pouco conhecido dos rios


Os pesquisadores descobriram que as sementes das árvores, transportadas pelos cursos d'água, colonizam gradualmente as florestas atlânticas. Esse fenômeno, chamado de hidrocoria, permite que as espécies atravessem regiões que, de outra forma, seriam hostis. Os rios se tornam assim "rodovias" para a biodiversidade.

Essa dispersão ocorre ao longo de milênios, com gerações de árvores crescendo ao longo das margens. As sementes, flutuando na superfície, percorrem longas distâncias antes de se enraizarem em novos habitats. Esse processo lento, mas constante, explica a presença de espécies comuns nas duas florestas.

Uma migração principalmente unidirecional


O estudo, publicado na Proceedings of the Royal Society B, concentrou-se em 164 espécies de árvores do gênero Inga. As análises genéticas mostraram que a maioria das migrações ocorre da Amazônia para as florestas atlânticas. Apenas algumas espécies fizeram o caminho inverso.

Essa assimetria é explicada pelo tamanho da Amazônia, que produz mais sementes. Os pesquisadores identificaram 16 a 20 casos de colonização bem-sucedida, distribuídos ao longo de milhões de anos. Esses resultados questionam a ideia de que essas migrações estavam ligadas a períodos climáticos específicos.


Mapa dos principais biomas da América Latina mostrando a distribuição disjunta das florestas tropicais úmidas e a diagonal seca na América do Sul. As ocorrências de Inga (círculos cinza, 39.312 registros validados) são sobrepostas. As florestas tropicais e de nuvens estão em verde, os biomas secos (savana, floresta seca, chaco, pradarias alagadas) em laranja. As setas indicam as conexões históricas ou atuais entre a Amazônia e a Mata Atlântica: azul (rota NE), vermelho (rota SE-NO), amarelo (florestas-galeria através dos biomas secos). As setas grossas destacam a importância das rotas NE e SE-NO.


Implicações para a conservação


As florestas atlânticas, embora menores que a Amazônia, abrigam uma biodiversidade excepcional. Elas contam com cerca de 3.000 espécies vegetais a mais que sua vizinha amazônica. No entanto, apenas 20% de sua superfície original permanece hoje.

A proteção das florestas ribeirinhas é essencial para manter essas conexões ecológicas. Os pesquisadores destacam a importância de preservar esses corredores naturais, que permitem que as espécies se adaptem às mudanças ambientais.

Para ir mais longe: O que Ă© hidrocoria?


A hidrocoria é um mecanismo natural de dispersão de sementes pela água. Esse processo permite que algumas plantas, principalmente árvores, colonizem novos habitats distantes graças aos cursos d'água. As sementes, muitas vezes equipadas com estruturas flutuantes, são transportadas por longas distâncias antes de se enraizarem.

Esse fenômeno é particularmente importante nos ecossistemas fluviais e costeiros. Ele explica como espécies vegetais podem atravessar zonas hostis, como regiões áridas, para alcançar ambientes mais propícios ao seu crescimento.

A hidrocoria desempenha um papel fundamental na conectividade dos ecossistemas. Ela permite que florestas separadas por barreiras geográficas compartilhem espécies comuns. Esse processo é essencial para manter a biodiversidade e a resiliência dos habitats naturais.

Por fim, a hidrocoria ressalta a importância de preservar os cursos d'água e as florestas ribeirinhas. Esses corredores naturais são vitais para a dispersão das espécies e sua adaptação às mudanças ambientais, especialmente em um contexto de desmatamento e aquecimento global.
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