Como ferramentas europeias chegaram à China há 60 mil anos? 🛠️

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Proceedings of the National Academy of Sciences
Outras Línguas: FR, EN, DE, ES
Ferramentas com 55 mil anos, semelhantes às dos Neandertais, acabam de ser identificadas na China. Essa descoberta questiona a ideia de um desenvolvimento cultural estagnado no Leste Asiático durante o Paleolítico Médio.


Até agora, esse período era visto como dinâmico na Europa e na África, mas pouco evolutivo no Extremo Oriente. A descoberta de um sistema técnico complexo, similar ao método Quina, no sítio de Longtan, abre novas perspectivas. Como essas ferramentas, típicas dos Neandertais, chegaram lá?

Uma tecnologia inesperada na Ásia


Os raspadores Quina, grossos e assimétricos, até então eram documentados exclusivamente em sítios neandertais da Europa, especialmente na França. Sua identificação no sudoeste da China, em Longtan, representa uma grande primeira vez arqueológica. Essas ferramentas, datadas entre 50 mil e 60 mil anos, mostram retoques escalariformes e marcas de uso idênticas aos exemplares europeus, segundo o estudo publicado na PNAS.

Sua presença no Leste Asiático é um enigma: nenhum fóssil de Neandertal foi encontrado a leste do Altai. Os pesquisadores sugerem dois cenários em sua publicação: uma difusão cultural via contatos entre grupos humanos ou uma invenção independente pelos Denisovanos – cujos traços genéticos persistem na Ásia. Os pólens fósseis indicam, aliás, um clima similar ao da Europa, talvez favorecendo adaptações técnicas convergentes.


Uma tecnologia pré-histórica descoberta na Europa nunca havia sido encontrada no Leste Asiático.
Ben Marwick

Essa descoberta se soma a outros indícios recentes de uma complexidade insuspeitada na Ásia durante o Paleolítico Médio, como as ferramentas foliáceas da caverna de Denisova (Sibéria) mencionadas em estudos anteriores. Ela obriga a reconsiderar as dinâmicas culturais em grande escala, embora o mistério dos artesãos de Longtan persista na ausência de fósseis humanos associados.

Um panorama pré-histórico a ser redefinido


A descoberta das ferramentas Quina na China desafia a visão tradicional de um Leste Asiático culturalmente isolado durante o Paleolítico Médio. As análises ambientais do sítio de Longtan revelam um clima similar ao da Europa na mesma época, com paisagens abertas e frias propícias a estratégias de caça móvel. Essa convergência ecológica poderia explicar o surgimento de tecnologias análogas, sejam elas resultado de contatos culturais ou inovações paralelas.

Os pesquisadores destacam que essas ferramentas sofisticadas não eram meros instrumentos de sobrevivência, mas refletiam uma expertise técnica transmitida entre gerações. Sua presença na China sugere trocas de longa distância ou a existência de redes culturais mais amplas do que se imaginava. As semelhanças com as ferramentas europeias chegam aos métodos de afiação e às marcas de uso, levantando questões sobre a natureza dos vínculos entre essas populações.

Essa descoberta abre novas perspectivas sobre a dinâmica cultural do Paleolítico Médio asiático. Ela convida a repensar o papel do Leste Asiático na evolução tecnológica humana, destacando as muitas incógnitas que persistem. O próximo passo será encontrar restos humanos associados a essas ferramentas, o que talvez permita identificar seus fabricantes entre Neandertais, Denisovanos ou uma população ainda desconhecida.
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