Um nascer do sol em plena natureza, embalado pelo canto dos pássaros, acalma instantaneamente. Mas, ao adicionar a essa cena o rugido de um motor ou uma buzina, a magia desaparece. Essa dissonância sonora pode desempenhar um papel crucial em nossa saúde mental.
Um estudo recente realizado pela University of the West of England destaca os efeitos contrastantes dos sons naturais e antropogênicos. Os pesquisadores pediram a 68 voluntários que escutassem diferentes paisagens sonoras: um ambiente natural puro, uma versão alterada por ruídos de tráfego a baixa velocidade (30 km/h) e outra a velocidade mais alta (60 km/h).
Os resultados são claros. A exposição exclusiva a sons naturais reduz o estresse e a ansiedade, enquanto melhora a recuperação após uma situação estressante. Em contraste, quando os sons naturais são associados a ruídos de tráfego, esses benefícios são limitados, com impacto ainda mais significativo à medida que a velocidade dos veículos aumenta.
Por que esse efeito ocorre? Os sons antropogênicos, como o tráfego rodoviário, frequentemente dominam a paisagem sonora urbana. Ao mascararem os sons da natureza, eles perturbam nossa capacidade de relaxar, aumentando, assim, nosso nível de estresse.
Essa observação se insere em uma dinâmica mais ampla. Estudos anteriores já demonstraram que sons naturais, como o som das ondas ou o canto dos pássaros, ajudam a reduzir a pressão arterial e estabilizar o ritmo cardíaco. O ruído do tráfego, por outro lado, está associado ao aumento de distúrbios do sono e até a sintomas de depressão.
Para os pesquisadores, uma das soluções mais simples reside na redução da velocidade dos veículos, especialmente em áreas urbanas. Isso não apenas fortaleceria a segurança, mas também preservaria um ambiente sonoro mais propício ao bem-estar.
Paralelamente, encorajam o reordenamento de espaços públicos para promover a imersão sonora na natureza. Adicionar áreas verdes ou corredores sonoros naturais poderia, assim, atenuar os efeitos prejudiciais dos ruídos urbanos.
Esses trabalhos, publicados na
PLOS ONE, destacam a importância de considerar o som como um elemento-chave de nosso ambiente. À medida que as cidades continuam a se expandir, devolver espaço aos sons da natureza não é um luxo, mas uma necessidade para nossa saúde mental.
Em nível individual, práticas simples como um passeio na floresta ou à beira-mar já podem constituir uma escapada benéfica contra os ruídos perturbadores da vida urbana.
Por que os sons naturais acalmam nossa mente?
Os sons da natureza, como o canto dos pássaros ou o murmúrio das ondas, têm um impacto direto em nosso sistema nervoso. Ao ativarem o sistema parassimpático, eles desaceleram o ritmo cardíaco e reduzem a pressão arterial.
Esses sons também estimulam a liberação de dopamina, um hormônio associado ao bem-estar, promovendo um estado de relaxamento. Em contraste, os ruídos urbanos frequentemente desencadeiam uma resposta de estresse, ativando o sistema nervoso simpático.
As paisagens sonoras naturais funcionam como "micro-pausas" para o cérebro, reduzindo a atividade em áreas associadas à ansiedade e melhorando a concentração.
Nas cidades, integrar espaços verdes onde os sons naturais predominam poderia oferecer um refúgio sonoro essencial, benéfico para a saúde mental e física.