Os pesquisadores analisaram recentemente um crânio humano da Coleção Duckworth da Universidade de Cambridge, datado de 2686 a 2345 a.C, no antigo Egito.
Esse crânio apresentava um grande tumor primário, além de mais de 30 pequenas lesões metastáticas. Essas lesões estavam cercadas por marcas de cortes, provavelmente feitas com um instrumento metálico afiado. Isso sugere que os antigos egípcios tentaram realizar uma cirurgia para tratar esse paciente, um homem de trinta e poucos anos.
Uma nova análise das lesões em crânios do antigo Egito sugere que os humanos tentavam tratar cirurgicamente o câncer mais de 1.000 anos antes do que se imaginava. A imagem mostra o crânio de um homem que viveu entre 2686 e 2345 a.C. Crédito: Tondini, Isidro, Camarós, 2024
Até agora, a descrição mais antiga conhecida do câncer datava de cerca de 1600 a.C. no Papiro Edwin Smith, que descrevia vários tumores mamários e esclarecia que não havia "nenhum tratamento" para estes tumores. Estas novas descobertas, publicadas na revista Frontiers in Medicine, podem, assim, expandir os limites da nossa compreensão dos primórdios da medicina moderna.
Close das tumores encontradas no crânio do homem de trinta e poucos anos. Marcas de cortes são visíveis em várias delas. Crédito: Tondini, Isidro, Camarós, 2024
A equipe também examinou o crânio de uma mulher de 50 anos, datado de 664 a 343 a.C., também conservado na Universidade de Cambridge. Como o homem, ela apresentava uma grande lesão sugerindo um câncer. No entanto, ela também tinha outras duas lesões causadas por ferimentos traumáticos, provavelmente devido a um ataque com uma arma afiada. Essas lesões traumáticas estavam cicatrizadas, indicando que a medicina egípcia antiga era capaz de tratar esse tipo de ferimento, mas não o câncer.
Os resultados sugerem que o câncer representava uma "fronteira" nos conhecimentos médicos dos antigos egípcios: uma doença que eles tentavam entender e tratar, sem sucesso. Sem os registros clínicos dos pacientes, entretanto, é difícil reconstituir a história completa desses cânceres.
A equipe agora deseja voltar ainda mais no tempo para entender como os humanos enfrentaram o câncer ao longo dos milênios. Segundo Edgard Camarós Perez, se há mais de 4.000 anos os antigos egípcios tentavam entender o câncer em um nível cirúrgico, estamos convencidos de que isso começou há muito mais tempo.