🐁 Estes ratos selvagens possuem uma linguagem nunca vista

Publicado por Adrien,
Fonte: CNRS INSB
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... ou como ultrassons de curto alcance criam uma rede de comunicação sofisticada.

Uma equipe internacional de cientistas fez uma descoberta sobre a comunicação animal, revelando que pequenos ratos utilizam vocalizações ultrassônicas, normalmente consideradas muito privadas e de curto alcance, para gerenciar vastos territórios e interagir com outros grupos. Esta pesquisa, recentemente publicada na revista Current Biology, revoluciona nossa compreensão dos sistemas de comunicação em grande escala entre mamíferos.

Tradicionalmente, os sinais ultrassônicos dos roedores são pensados como sussurros íntimos, viajando apenas por alguns metros antes de se esvaírem. Imagine tentar gritar em uma sala e ser ouvido do outro lado da cidade! No entanto, os ratos listrados africanos (Rhabdomys pumilio) desenvolveram uma estratégia surpreendente para contornar esta limitação.


© ENES


Uma paisagem de comunicação inesperada


"Pensávamos que esses ultrassons estavam confinados às interações próximas dentro de um mesmo grupo familiar", explica Léo Perrier, ex-doutorando da Universidade Jean Monnet Saint-Étienne e primeiro autor do estudo. "Mas nossas observações em campo mostraram que esses ratos vocalizavam não apenas em seus ninhos, mas também em arbustos distantes no coração de seu território e nas fronteiras com os grupos vizinhos."

A equipe implantou gravadores acústicos através dos territórios de vários grupos de ratos, revelando um uso surpreendente e localizado de diferentes tipos de chamados. Os arbustos-ninhos, refúgios do grupo familiar, apresentavam um repertório vocal rico e variado. Mas nas fronteiras territoriais, onde os encontros com estranhos são mais prováveis, um tipo específico de chamado, o "down call" ("grito descendente"), tornava-se predominante.

Um "passaporte vocal" para cada grupo familiar


Isso não é tudo. Utilizando redes neurais avançadas para analisar as vocalizações, os cientistas descobriram que os ultrassons carregam uma assinatura própria de cada família de ratos, um verdadeiro "passaporte vocal". Os ratos podem assim distinguir os membros de sua família de seus vizinhos ou de indivíduos totalmente estranhos.

Para testar a importância desses sinais, a equipe realizou experimentos de "playback" em campo. Eles difundiram vocalizações provenientes de membros da família, de grupos vizinhos ou de estranhos, assim como sons de controle sem significado particular. As reações foram eloquentes. Os gritos de estranhos desencadearam uma fuga rápida para o ninho e uma vigilância aumentada. Aqueles provenientes de vizinhos provocaram uma vigilância moderada, sem fuga imediata. As vocalizações de seu próprio grupo, assim como os sons de controle, não tiveram impacto significativo no comportamento dos ratos.

Estes resultados provam que, apesar de seu curto alcance (os ultrassons emitidos pelos ratos não são mais audíveis além de dois metros), os ultrassons desempenham um papel fundamental no reconhecimento dos grupos e na defesa territorial. "É um paradoxo resolvido.", acrescenta Nicolas Mathevon, "Os ratos não podem enviar mensagens por longas distâncias de uma só vez, mas vocalizando estrategicamente em locais-chave de seu território, eles estendem o alcance funcional de seus sinais, criando uma rede de comunicação em escala da paisagem."

Além dos sussurros: uma nova perspectiva sobre a comunicação animal


Este estudo abre novos caminhos para compreender como os animais gerenciam dinâmicas sociais complexas em seu ambiente natural. Os ratos listrados demonstram que mesmo com restrições físicas importantes, comportamentos apropriados podem transformar sinais aparentemente limitados em ferramentas poderosas para a organização social e a sobrevivência. Os sussurros dos ratos são na realidade os pilares de um vasto sistema de inteligência territorial, comparável aos cantos dos pássaros. A única diferença, significativa para os humanos: eles estão em um registro imperceptível ao nosso ouvido.

Estes trabalhos foram financiados pela Universidade Jean Monnet Saint-Étienne, o Labex CeLyA, o CNRS, o Inserm e o Instituto Universitário da França.
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