A identificação de doenças infecciosas muitas vezes continua sendo um desafio de paciência, dificultado por testes específicos e limitados.
No entanto, pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) demonstraram que uma única ferramenta, baseada no sequenciamento metagenômico de nova geração (mNGS), poderia transformar esse paradigma. Diferentemente dos testes clássicos, que analisam um patógeno de cada vez, este método examina todo o DNA e RNA contidos em uma amostra biológica.
A ideia baseia-se em um princípio engenhoso: extrair todo o material genético de uma amostra – seja ela de sangue, líquido cefalorraquidiano ou respiratório – e compará-lo a um banco de dados contendo milhares de agentes patogênicos. Em poucas horas, o teste é capaz de estabelecer uma correspondência precisa e identificar o culpado.
Um estudo publicado em
Nature Medicine explorou a eficácia dessa abordagem em infecções do sistema nervoso central, como encefalite ou meningite. Entre 2016 e 2023, mais de 4.800 amostras foram analisadas, permitindo um diagnóstico preciso em 86% dos casos. Essas patologias, particularmente graves, requerem um manejo rápido para limitar os riscos de complicações.
Além das infecções neurológicas, uma aplicação adicional da tecnologia foi testada em doenças respiratórias como pneumonia. Publicado em
Nature Communications, este estudo também apresentou resultados promissores, especialmente graças à automação do processo. Isso reduz o tempo de análise, tornando o método ainda mais acessível em situações de emergência.
Outra grande vantagem da técnica reside na sua capacidade de detectar patógenos ainda desconhecidos. Os pesquisadores enxergam nela uma ferramenta crucial para identificar potenciais vírus com risco pandêmico, em um mundo onde as mudanças ambientais favorecem o surgimento de novas doenças infecciosas.
No entanto, essa inovação levanta questões sobre acessibilidade. Atualmente, o mNGS está disponível em laboratórios especializados, como o da Delve Bio, uma empresa que comercializa a tecnologia. Com resultados disponíveis em dois dias, esse serviço poderá se tornar um padrão para casos clínicos complexos.
Enquanto as pesquisas continuam para expandir as aplicações do mNGS, essa tecnologia marca uma virada no diagnóstico médico. Ela poderá, em um futuro próximo, transformar completamente o manejo de doenças infecciosas, sejam elas comuns ou emergentes.
O que é o sequenciamento metagenômico de nova geração (mNGS)?
O sequenciamento metagenômico de nova geração, ou mNGS, é uma técnica recente na microbiologia médica. Diferentemente dos testes tradicionais que analisam um patógeno específico, o mNGS examina todo o material genético – DNA e RNA – contido em uma amostra biológica.
Esse método funciona ao comparar as sequências genéticas obtidas com um vasto banco de dados reunindo milhares de agentes patogênicos. Isso permite identificar com precisão vírus, bactérias, fungos ou parasitas presentes na amostra.
Um dos maiores benefícios do mNGS é sua capacidade de detectar patógenos raros ou desconhecidos. Essa característica é essencial para identificar rapidamente ameaças emergentes, como novos vírus com potencial pandêmico.
Por fim, a automação do processo torna o mNGS particularmente rápido, com resultados disponíveis em poucas horas ou dias, abrindo caminho para diagnósticos e tratamentos mais eficazes.