Uma gruta no norte da Grécia conservou um crânio antigo durante várias centenas de milhares de anos, diretamente fixado numa parede. A sua descoberta, quase milagrosa, levanta questões sobre os primeiros habitantes europeus.
Descoberto em 1960 por um habitante na gruta de Petralona, este fóssil intrigou desde o início devido à sua morfologia atípica. Sem contexto estratigráfico preciso, a sua idade e pertença permaneceram incertas, suscitando debates científicos durante mais de seis décadas.
O crânio de Petralona, coberto por uma estalagmite (gruta de Petralona, Grécia). Imagem Wikimedia
O mistério do crânio e as suas primeiras análises
O fóssil apresenta características humanas, mas difíceis de relacionar com uma espécie precisa. Segundo diferentes estudos, poderá tratar-se de Homo erectus, de Neandertal, ou mesmo de um Homo sapiens arcaico. Esta ambiguidade é acentuada pela ausência de camadas sedimentares que permitam uma datação fiável.
Com efeito, a maioria dos fósseis são habitualmente encontrados em camadas de sedimentos (terra, areia, depósitos minerais) que se sobrepõem ao longo do tempo e permitem estimar a idade do fóssil, o que não é possível no presente caso porque o crânio estava diretamente fixado à parede da gruta.
As primeiras tentativas de datação, realizadas sobre os ossos e a calcite que recobre o crânio, produziram resultados muito variáveis, oscilando entre 160 000 e 700 000 anos. Estas divergências mostram a dificuldade de estudar fósseis em ambientes cársicos.
O próprio local complica a análise: o crânio está cimentado, sem esqueleto associado, numa gruta moldada por milénios de erosão e depósitos minerais. Esta configuração torna impossível qualquer correlação direta com artefactos ou restos animais.
Datação urânio/tório e novas perspetivas
Investigadores aplicaram recentemente a datação urânio/tório na calcite que recobre o crânio. Este método mede a transformação radioativa do urânio em tório em depósitos minerais estáveis. Oferece assim uma cronologia fiável no ambiente fechado de uma gruta, ao contrário dos sedimentos em meio aberto.
Os resultados da datação da camada mais antiga que recobre o crânio indicam uma idade de 286 000 anos, com uma margem de erro de 9 000 anos. Trata-se de uma idade mínima, indicando portanto que o indivíduo viveu antes deste período. Analisando os outros elementos geológicos, os cientistas estimam que o crânio poderá datar de 277 000 a 410 000 anos. Esta datação situa-o assim entre os restos humanos europeus mais antigos conhecidos.
Combinando morfologia e datação, os investigadores sugerem que o crânio poderá pertencer ao Homo heidelbergensis, um grupo humano primitivo suscetível de ser o ancestral comum dos Neandertais e dos Denisovanos.
O crânio de Petralona confirma que uma população humana distinta coexistiu com os Neandertais durante o Pleistoceno médio. Ilustra também a diversidade dos grupos humanos presentes na Europa antes do aparecimento dos Homo sapiens.
Para ir mais longe: como funciona a datação urânio/tório?
O método baseia-se na desintegração radioativa do urânio em tório em minerais como a calcite. O tório não se move com a água, ao contrário do urânio, permitindo um "cronómetro" fiável. Esta técnica é particularmente adaptada aos depósitos nas grutas.
Medindo a relação U/Th, os cientistas podem estimar a idade do depósito desde a sua formação. A datação U/Th permitiu reinserir o crânio de Petralona numa cronologia coerente, oferecendo uma visão mais clara da evolução humana na Europa.