Nas águas turvas da Amazônia, os golfinhos-rosados revelam um comportamento surpreendente. Jatos de urina projetados no ar podem desempenhar um papel crucial em suas interações sociais.
Esses cetáceos, conhecidos como botos, vivem em um ambiente onde a visibilidade é limitada. Seu modo de comunicação, já complexo, parece incluir sinais químicos inesperados. Um estudo recente, publicado na Behavioural Processes, documenta esse fenômeno raro, abrindo novas perspectivas sobre a sociabilidade desses animais.
Trecho do vídeo (veja abaixo).
Um comportamento inédito entre os cetáceos
Durante quatro anos de observação, os pesquisadores registraram 36 ocorrências de jatos de urina no ar. Os machos, deitados de costas, projetam sua urina a mais de um metro de altura. Esse comportamento, nunca observado em outros golfinhos, intriga pela sua frequência e precisão.
Em dois terços dos casos, outro macho se posiciona perto do jato, aparentemente observando-o ou seguindo-o. Essa reação sugere que a urina pode transportar informações sociais ou fisiológicas, embora seu papel exato ainda precise ser determinado.
Uma comunicação química adaptada
Os golfinhos da Amazônia possuem bigodes sensoriais em seu rostro (focinho), que poderiam captar sinais químicos. Essas estruturas, ausentes nos golfinhos marinhos, permitiriam que detectassem hormônios ou outros marcadores na urina.
Um estudo anterior sobre golfinhos-nariz-de-garrafa mostrou que eles usam a língua para provar a urina e identificar seus semelhantes. Os botos poderiam, assim, combinar sinais químicos e acústicos, com o impacto da urina na água servindo como um ponto de referência sonoro.
Um mistério científico a ser elucidado
Os pesquisadores levantam várias hipóteses sobre a função desses jatos de urina. Eles poderiam indicar o status social ou o estado de saúde de um indivíduo, ou até mesmo desempenhar um papel na reprodução. No entanto, a ausência de olfato desenvolvido nos golfinhos complica a interpretação desse comportamento.
Essa descoberta destaca a adaptabilidade dos golfinhos de rio ao seu ambiente. Ela também abre novas vias para estudar a comunicação química entre os cetáceos, um campo ainda pouco explorado.
Em resumo: Por que os golfinhos da Amazônia usam urina para se comunicar?
Os golfinhos da Amazônia vivem em águas turvas onde a visibilidade é limitada. Diferentemente dos golfinhos marinhos, eles parecem explorar sinais químicos para interagir. A urina projetada no ar pode conter informações sobre a identidade, o status social ou o estado fisiológico de um indivíduo.
Observações mostram que alguns golfinhos se aproximam ativamente dos jatos de urina e parecem analisá-los. Essa reação sugere um modo de comunicação inédito, combinando percepção química e acústica, especialmente graças aos bigodes sensoriais presentes em seu rostro.
Esse comportamento levanta novas questões sobre a comunicação dos cetáceos. Ele poderia desempenhar um papel crucial na estruturação dos grupos sociais e na reprodução, oferecendo assim um novo ângulo de estudo sobre a adaptação dos golfinhos ao seu ambiente único.